sexta-feira, 31 de agosto de 2007

LICOES DE ROBERTO CAMPOS

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Às 31 de agosto de 2007 às 13:11 , Blogger IRIDIUM08 disse...

"Neoliberalismo e globalização
não explicam nossa pobreza.
Os verdadeiros canalhas são outros"

Tornou-se um modismo recente incriminar pela estagnação do desenvolvimento brasileiro dois falsos canalhas: o neoliberalismo e a globalização. Só que esses dois canalhas quase não existem no Brasil. Além disso, como dizia Nelson Rodrigues, "Subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos".

Só no Brasil se acredita que o país esteja sendo vitimado pelo neoliberalismo. Nenhum dos institutos especializados em análises comparativas internacionais de graus de liberdade econômica deixa de classificar o Brasil como impenitentemente dirigista. A melhor análise é a do Economic Freedom of the World, que vem sendo publicado conjuntamente por onze institutos de pesquisa a partir de 1996. A última versão eleva de dezessete para 24 os critérios de avaliação de liberdade econômica; e de 102 para 124 o elenco de países avaliados. Melancolicamente, o Brasil ocupa um desprestigioso 93º lugar, entre Marrocos e Gabão. Nossas políticas econômicas são tidas por menos liberais que as de países ex-comunistas, como a República Checa, Hungria e Polônia.

Isso é fácil de entender. Não pode ser exemplo de neoliberalismo nossa "república dos alvarás", que tem moeda inconversível, profusos controles cambiais, complicadíssima regulamentação trabalhista, tributação punitiva que asfixia o setor privado, uma Constituição intervencionista que até recentemente sancionava monopólios estatais e expandiu de catorze para quarenta os instrumentos de intervenção econômica.

O Brasil está também longe de ser um campeão da globalização. Esta pode ser avaliada por três principais critérios: a globalização comercial, a absorção de capitais externos e o grau de penetração tecnológica.

A primeira se mede pela participação do comércio exterior no PIB. No Brasil ela é de apenas 15%, inferior à média latino-americana e largamente superada na Europa e nos países emergentes da Ásia. Nossa posição é bastante melhor no tocante à abertura para capitais, pois agora somos excedidos apenas pela China na atração de investimentos diretos. Quanto ao critério de penetração tecnológica (medida pelo número de computadores, acesso à internet, aparelhos de fax e celulares por 1.000 habitantes), o Brasil, segundo estimativas da Goldman Sachs, está em quadragésimo lugar entre 76 países avaliados. Nosso índice é quinze vezes menor que o dos Estados Unidos e cerca de metade do nível do Chile e da Argentina. O país é, portanto, retardatário em matéria de globalização.

Neoliberalismo e globalização não explicam, portanto, nossa pobreza. São falsos canalhas. Os verdadeiros canalhas são outros. A inflação, um imposto que fere sobretudo os mais pobres e impede o desenvolvimento sustentado. A carência de educação básica, causada por distorções no dispêndio público que financia universidades gratuitas para ricos e remediados e investe de menos na educação de massa. A previdência pública compulsória, que é um sistema de solidariedade invertida, sendo ao mesmo tempo: antidemocrática (porque obriga o cidadão a entregar sua poupança a um administrador público); anti-social (pois a contribuição dos pobres financia aposentadorias precoces especiais em favor de classes politicamente mobilizadas); e antidesenvolvimentista (porque não é fonte de poupança capitalizada para a alavancagem do desenvolvimento). A Constituição de 1988 instituiu uma seguridade social de ambições suecas, recursos moçambicanos e técnicas lusitanas de administração. Déficits fiscais, que criam um ciclo vicioso: já fugiram os capitais externos – voláteis – , e os poupadores nacionais exigem juros elevados. Estes deprimem a economia privada e as receitas fiscais. Esse círculo vicioso é "made in Brazil". Não foi gerado nem pelo neoliberalismo nem pela globalização. Outros erros foram cometidos. A fundação de empresas estatais, as quais antes de ser privatizadas para atrair investidores tinham sido privatizadas em favor dos funcionários. A cretina política de informática, que tornou não competitiva toda uma geração. Requisitos burocráticos que tornam lenta e dispendiosa a criação de novas empresas e seu acesso ao crédito. Um sistema fiscal punitivo e voraz que, entre impostos e déficits, absorve 40% do PIB, sem contrapartida aceitável de serviços, e que torna o Estado brasileiro um bebê, na definição do presidente Reagan: "Um canal alimentar com grande apetite numa ponta e nenhum sentido de responsabilidade na outra".


FONTE REVISTA VEJA

 

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