sexta-feira, 31 de agosto de 2007

ALIMENTOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

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Às 31 de agosto de 2007 às 16:06 , Blogger IRIDIUM08 disse...

O gene contra o veneno

Os alimentos geneticamente modificados ainda assustam, mas diminuem o uso de agrotóxicos e podem ser uma nova "revolução verde"

Para entender a guerra que se trava hoje contra os alimentos geneticamente modificados, os transgênicos, é útil recordar a história de outra revolução no campo ocorrida na década de 60. O mundo agrícola passou naquele tempo por um progresso até então sem precedentes. Ela foi denominada "revolução verde" e matou a fome de um continente inteiro, a Ásia. Seu propositor principal foi um agrônomo americano chamado Norman Borlaug. Com o uso combinado de novas técnicas de plantio, fertilizantes, herbicidas e melhoramentos de espécies, Borlaug conseguiu transformar imensas regiões áridas e inóspitas em formidáveis produtoras de grãos. A China dobrou sua produção de arroz entre 1961 e 1970. A Índia fez o mesmo com o trigo. Segundo estimativas, 40% dos seres humanos vivos atualmente devem sua vida ao desenvolvimento de fertilizantes baratos. Por seus feitos Borlaug recebeu em 1970 o Prêmio Nobel da Paz. Mas ele próprio não teve paz. A "revolução verde" sofreu virulentos ataques dos partidos de esquerda e dos nascentes movimentos ecológicos. Dizia-se que Borlaug e seu batalhão de agrônomos "acabariam com as florestas naturais do mundo" e "estavam colocando em risco a raça humana".

Os transgênicos e seus propositores sofrem agora o mesmo tipo de repulsa dos partidos de esquerda, dos movimentos ecológicos e, por causa da pregação deles, da opinião pública. A ironia é que os transgênicos têm potencial para ser justamente parte da solução dos problemas ambientais, reais e percebidos, criados pela "revolução verde" – o desmatamento e o uso de substâncias químicas tóxicas nas lavouras para evitar pragas. Pelas projeções mais otimistas, o mundo terá de duplicar a produção de alimentos até 2050. Só assim haverá comida suficiente para nutrir uma população de 8,9 bilhões de pessoas – 40% maior que a atual. A necessidade de produzir alimentos faz crescer a pressão sobre o meio ambiente, especialmente sobre as áreas verdes ainda preservadas. O mundo perde por ano uma área de floresta equivalente a Portugal. A principal causa do desmatamento é a demanda por áreas de plantio. Como os transgênicos aumentam a produtividade das colheitas, a pressão pela expansão das fronteiras agrícolas é menor. Além disso, as sementes modificadas em laboratório produzem plantas mais resistentes a pragas, o que diminui drasticamente a quantidade de agrotóxicos de que elas necessitam para viver. Por essa ótica, os transgênicos são um achado capaz de ajudar a preservar a natureza. No entanto, as sementes geneticamente modificadas assustam as pessoas e levam as autoridades da maioria dos países a proibir ou regular fortemente seu uso nas lavouras.

Uma das explicações dos especialistas é que as pessoas tendem, muitas vezes com razão, a temer transformações da matéria que gerem substâncias ou seres que não existem normalmente na natureza. Dois exemplos que ilustram esse traço da personalidade humana, um real e outro fictício: o urânio enriquecido que serve de matéria-prima para bombas atômicas e o monstro produzido pelo doutor Frankenstein no livro da escritora inglesa Mary Shelley (1797-1851). Não por acaso, os alimentos transgênicos são chamados pelos ambientalistas de língua inglesa de frankenfood – que poderia ser entendido como "comida monstruosa". Embora a segurança dos transgênicos para a saúde humana tenha sido estabelecida por laboratórios de reputação em diversos países do mundo, ainda restam zonas de sombra sobre as reações que as sementes modificadas possam provocar na natureza. O princípio da troca de genes não é propriamente novidade no mundo natural. As espigas de milho das primeiras espécies desse vegetal cultivadas pela humanidade há 15.000 anos mediam cerca de 5 centímetros e tinham grãos pequenos e esparsos. Hoje, graças à seleção artificial e ao cruzamento de espécies, as espigas são seis vezes mais longas e dezenas de vezes mais produtivas. Flavio Finardi Filho, professor de ciência dos alimentos da Universidade de São Paulo (USP), explica: "Desde os primórdios da agricultura, o homem seleciona artificialmente as melhores espécies. De certa maneira, podemos afirmar que tudo o que comemos foi melhorado geneticamente". O que torna os alimentos transgênicos uma categoria especial é o fato de serem o resultado de uma tecnologia altamente eficiente que permite mexer na estrutura molecular de seu coração genético. As espécies recebem nos laboratórios genes – ou seja, pedaços de DNA, a molécula que define as características dos seres vivos – de espécies diferentes. Os técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) já testam dezenas de espécies vegetais com modificações genéticas.

A Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) recomenda que a liberação de alimentos transgênicos para plantio e consumo humano deve ser feita caso a caso. Também aconselha que se tome a mesma precaução com os animais clonados e com os animais e plantas modificados geneticamente para secretarem substâncias que combatem doenças, uma área que avança velozmente nos dias atuais. Só nos Estados Unidos estão sendo testados cerca de 300 vegetais modificados para, além de servir de alimento, ajudar a combater doenças como hepatite B, cólera, diabetes e até alguns tipos de câncer, como o linfoma não-Hodgkin. As culturas de soja, milho e algodão transgênicos se disseminaram no mundo a partir da metade dos anos 90. Nos últimos sete anos, alimentos geneticamente modificados estão sendo cultivados em cerca de 230 milhões de hectares em mais de quinze países em todos os continentes. No Brasil, o único produto transgênico comercializado é a soja. E mesmo assim em regime de exceção. Sementes de soja transgênica chegaram ao Brasil vindas da Argentina em 1995, espalharam-se ilegalmente pelo Rio Grande do Sul e hoje respondem por cerca de 95% da produção total de 9,6 milhões de toneladas do Estado. Depois disso, outras regiões produtoras seguiram o mesmo caminho. Diz Luiz Antonio Barreto de Castro, diretor da Embrapa: "Mais de uma centena de produtos derivados da soja está sendo consumida há mais de seis anos no Brasil. Se houvesse algum dano à saúde ou ao meio ambiente, já teria sido identificado. O único problema da soja transgênica é o mesmo da soja convencional: a reação alérgica. Mas isso pode acontecer com qualquer produto".

FONTE VEJA.

 

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