segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O CELIBATO QUE A SOCIEDADE CRIOU

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Às 3 de setembro de 2007 às 10:58 , Blogger IRIDIUM08 disse...

Livro escrito por um casal de cientistas mostra que a
monogamia não é um comportamento humano "natural"

Trair é natural. O argumento talvez não convença – e certamente não consola – o consorte traído. Mas esse é um fato incontestável à luz fria da ciência: o desejo de variedade sexual foi incutido no homem (e, em grau pouco menor, na mulher) pela evolução. O ser humano até pode manter um só parceiro sexual por toda a vida, mas esse é um comportamento que custa quase tanto esforço quanto o celibato absoluto. A conclusão já está anunciada no primeiro capítulo de O Mito da Monogamia (tradução de Ryta Vinagre; Record; 322 páginas; 42 reais), instigante livro escrito pelo biólogo americano David Barash em parceria com sua mulher, a psiquiatra Judith Eve Lipton. No último capítulo, porém – depois de centenas de páginas revisando as práticas sexuais de pássaros, macacos e aranhas, entre outros bichos –, o casal de autores conclui que, afinal, natureza não é tudo. Há boas razões para as sociedades ocidentais terem feito do par monogâmico a base de sua estrutura familiar.

A monogamia de fato é uma ocorrência excepcional, quase aberrante, na natureza (veja quadros). Andorinhas, pardais e chapins até formam casais fixos. Seus filhotes são insaciáveis – alguns precisam comer um inseto a cada quinze segundos – e por isso exigem os cuidados conjuntos de macho e fêmea. Até muito recentemente, os naturalistas acreditavam que essas aves eram exemplos de fidelidade matrimonial. Os avanços da genética derrubaram o romantismo aviário: análises de DNA mostram que um só ninho pode abrigar filhotes de vários pais. As fêmeas, está provado, gostam de dar seus pulinhos para os galhos próximos. É preciso traçar, portanto, uma distinção entre a monogamia social – o casal que cuida da prole em conjunto, comum entre aves e pessoas – e a monogamia sexual – o par exclusivo e fiel. Entre os mamíferos, a monogamia é rara em qualquer forma. Predominam os mais variados arranjos polígamos. Em várias espécies, os machos mais fortes impõem sua dominância sobre o grupo – e assim monopolizam os favores das fêmeas. E até nesses haréns vigora a infidelidade. As fêmeas dos babuínos às vezes tentam escapar na direção dos machos subordinados. Se o macho dominante nota esse movimento, ele reprime a prevaricadora com vigorosas mordidas no pescoço.

A biologia tem uma explicação econômica para a tendência dos machos à variedade sexual: a produção de esperma é barata, abundante. Do ponto de vista da evolução, quanto mais fêmeas um macho fecundar, maior será sua prole e maior sucesso ele terá na propagação de seus genes. A motivação feminina para o "adultério" é um tanto mais complexa: enquanto eles buscam quantidade, elas querem qualidade. Muitas vezes, a fêmea de um casal monogâmico "trai" na busca de um macho mais forte e bonito, cujos genes aprimorados serão transferidos para a prole. E isso vale tanto para uma andorinha quanto para Emma Bovary, a personagem de Flaubert que, entediada com seu marido sem graça, recorre ao adultério.

Na corrida reprodutiva, valem as estratégias mais bizarras. Há um tubarão cujo pênis é uma espécie de espingarda de dois canos: há um canal para a ejaculação e outro que injeta um jato de água na fêmea, para expulsar o sêmen dos rivais que tenham se acasalado antes. Aliás, há quem proponha que também entre os humanos exista a chamada "competição espermática". O formato e o tamanho do pênis humano o tornariam apropriado para funcionar como uma espécie de pistão de sucção, retirando do útero o esperma de eventuais competidores. Não é o que se esperaria de uma espécie monógama: se as mulheres fossem sempre fiéis, os homens não precisariam de um aparato de sucção acoplado ao sexo. Comparações com outros primatas sugerem que o ser humano, em seu estado primitivo ou "natural", oscilaria entre a poligamia e alguma forma de monogamia relaxada, com "escapadas" de ambos os sexos. Mas nem tudo o que é "natural" é desejável. Da flatulência à violência, as pessoas têm várias tendências biológicas que fazem bem em reprimir. No Ocidente, sob influência cristã, a monogamia acabou se estabelecendo. Tem a vantagem de ser um modelo igualitário, democrático, se comparado às sociedades polígamas, onde os mais ricos têm também mais mulheres. Nem todos terão tantos parceiros quanto desejariam. Mas não há nenhuma razão para supor que homens e mulheres seriam mais felizes sob outro regime sexual.

 

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