quarta-feira, 11 de junho de 2008

TODO MUNDO É PROTECIONISTA

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Às 11 de junho de 2008 às 14:06 , Blogger IRIDIUM08 disse...

O ministro das Relações Exteriores francês,
Hubert Védrine, não aceita discutir o fim
das barreiras comerciais a produtos agrícolas



Está destinado ao fracasso o encontro entre 49 chefes de Estado marcado para o próximo dia 28, no Rio de Janeiro, em que se deveria iniciar a criação de uma área de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia. Duas semanas atrás, os quinze países da União Européia se reuniram para decidir se queriam dar início às conversações. O desentendimento foi tamanho que a decisão foi adiada para o próximo dia 21. Qual o problema? É que Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os países que compõem o Mercosul, são grandes exportadores de produtos agrícolas. Querem vender mais à Europa, que está trancada nessa área e não dá sinais de querer abrir-se. "Se fizermos uma zona de livre comércio com o Mercosul agora, vamos explodir, explodir completamente. Não podemos fazer absolutamente nada. Todo mundo é protecionista", disse o ministro das Relações Exteriores da França, Hubert Védrine, ouvido em Paris a pedido de VEJA pelo jornalista Fernando Eichemberg.

O que deveria ser uma espécie de confraternização festiva está se transformando num palco de negociações mais complicadas do que o acordo de paz entre a Otan e o presidente iugoslavo, Slobodan Milosevic. Na semana passada, o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, que costuma defender a idéia do livre comércio, anunciou que não estará presente à reunião de cúpula no Rio. E o ministro Celso Lafer, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, já avisou que não pretende discutir a redução de tarifas sobre produtos industriais importados pelo Brasil em troca de concessões européias na área agrícola. Em outras palavras, a coisa emperrou antes de começar a andar. "Se ninguém ceder, pelo menos poderemos patrocinar um debate mais profundo sobre o protecionismo no mundo", diz Jorio Dauster, presidente da Companhia Vale do Rio Doce e ex-embaixador do Mercosul na União Européia.

Para Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem, presidente argentino, o debate é crucial. Brasil e Argentina enfrentam uma crise econômica motivada, em grande parte, por dificuldades em aumentar suas exportações. Desde 1990, as exportações da Europa para o Mercosul cresceram mais de 300%. Na outra mão, as compras dos europeus aumentaram apenas 25%. A União Européia gasta 60 bilhões de dólares por ano com subsídios à agricultura, e qualquer mexida para reduzir a verba provoca manifestações barulhentas – especialmente na França. Na última segunda-feira, Menem e FHC reuniram-se em Buenos Aires para combinar uma linguagem comum a ser usada no confronto com os europeus. Acabaram aventando a hipótese de adoção de uma moeda única no Mercosul – o que poderia fortalecer o bloco comercial nas negociações internacionais. "Não é possível que a Europa nos prejudique, dificultando nossas exportações e deixando nossos produtores em situação difícil", disse Menem.

O clima anda pesado. No final de maio, uma conferência sobre livre comércio, no Canadá, acabou se resumindo a um debate improdutivo em que se tentou definir, afinal, o que se entende por livre comércio. Não chegou a conclusão alguma. Dias antes, houve forte tensão num encontro da OCDE, a organização que cuida do desenvolvimento e da cooperação econômica entre os países, em Paris. "Diferentes nacões têm concepções diversas sobre a abrangência do livre comércio. Ainda não há acordo sobre a derrubada de barreiras protecionistas nas áreas agrícola, de serviços e de investimentos", declarou Charlene Barshefsky, representante de comércio exterior americana, ao final do encontro. A própria Organização Mundial do Comércio está acéfala desde abril. Os sócios do clube que põe ordem nas transações internacionais não se entendem sobre um nome para comandar o pelotão. A onda protecionista americana cresceu tanto nos últimos meses que motivou reclamações de Robert Rubin, secretário do Tesouro, que entrega o cargo no próximo mês. "Estamos numa encruzilhada. As pessoas de todo o mundo se beneficiaram da globalização e dos mercados abertos, e isso está sendo questionado agora até por líderes de nações importantes como os Estados Unidos", afirmou Rubin.

A história econômica ensina que as pessoas, os países e os negócios que se abrem para o mundo ficam mais ricos, saudáveis e seguros. Foi assim com a Holanda no século XVII e com a Inglaterra no século XIX. Os países que tentaram fechar-se chegaram próximo da ruína. É o caso da China no século XVI e da Coréia do Norte nos últimos anos. "Países isolados não avançam do ponto de vista tecnológico, não recebem investimentos e não crescem", diz Eduardo Giannetti da Fonseca, professor de história do pensamento econômico na Universidade de São Paulo. Talvez essa fosse uma boa hora para os europeus tomarem uma aula de história.

FONTE: VEJA

 

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