terça-feira, 4 de setembro de 2007

MAIS LICOES DE ROBERTO CAMPOS

2 Comentários:

Às 4 de setembro de 2007 às 11:23 , Blogger IRIDIUM08 disse...

Os países que fizeram o casamento
entre a democracia política
e a economia de mercado alcançaram
um estado de tranqüilidade sistêmica

Há um triângulo – liberdade lítica, eficiência econômica e eqüidade social – cujo atingimento é uma espécie de pisgah (visão da terra prometida) de qualquer sociedade organizada. É antiga e desapontadora a busca humana, no decorrer dos séculos, por um formato político e social capaz da difícil conciliação entre tais objetivos.

No fim deste milênio, parece que, depois de variados e frustrantes experimentos, estamos convergindo para o "capitalismo democrático", como o sistema mais capaz de englobar os três componentes do triângulo fugidio. Os países que fizeram o casamento entre a democracia política e a economia de mercado alcançaram, por assim dizer, um estado de "tranqüilidade sistêmica". As disputas remanescentes são quanto a personalidades, programas e métodos de rodízio de liderança, porém não quanto às vigas mestras do sistema.

Essa é essencialmente a situação da América do Norte (Estados Unidos e Canadá), da União Européia, da Australásia e do Japão. Há liberdade política, o sistema econômico é razoavelmente eficiente e o padrão de vida alto, sem graves bolsões de miséria.

Afligidos por "intranqüilidade sistêmica" são os países ex-comunistas, desiludidos com o fracasso do marxismo-leninismo, que não lhes trouxe nem liberdade política nem eficiência econômica, limitando-se a uma distribuição eqüitativa da pobreza. Às vezes nem isso, porque se estabelece uma clivagem entre a nomenclatura privilegiada e o proletariado conformista.

Na África, a situação é de geral "intranqüilidade sistêmica", não sendo atingido consistentemente nenhum dos desempenhos necessários à configuração de democracias capitalistas.

A América Latina está em posição intermediária. A democracia política parece estar solidamente implantada na maioria dos países, mas aparecem de vez em quando tendências continuístas e postulam-se mudanças constitucionais, para retardar o rodízio de lideranças. É baixo o grau de eficiência econômica, pois nenhum país do bloco transpôs o nível de 10.000 dólares de renda real per capita por ano e persistem inaceitáveis bolsões de pobreza. Estamos longe, portanto, de entrar no estágio da tranqüilidade sistêmica.

Resta saber quais as chances de o "capitalismo democrático" ser o formato político-social vitorioso no próximo milênio. Essa vitória foi talvez prematuramente proclamada por Francis Fukuyama ao anunciar, após a queda do Muro de Berlim, "o fim da História". Ou seja, o fim da longa busca da humanidade por um sistema político dotado de dois predicados: "sustentabilidade" e "universabilidade".

Descartado o socialismo marxista como solução fracassada, e reinterpretadas as social-democracias européias como meras variantes do capitalismo ocidental (figurando a palavra "social" como barretada à utopia socialista), inexistem alternativas que exibam aqueles dois predicados. O capitalismo democrático é sustentável porque não se baseia na opressão, e sim na persuasão; e é "universalizável" porque tem suficiente flexibilidade para se adaptar a várias facetas culturais. Sistemas alternativos, como o nacionalismo desenvolvimentista, não são por definição universalizáveis. E, com o Estado-nação renunciando cada vez mais, por meio de pactos regionais, como a União Européia, as três características "nacionais" – moeda própria, independência fiscal e Exército autônomo –, o nacionalismo não é uma alternativa promissora. A ressurgência recente é a do "etnicismo", que visa assegurar maior grau de identidade a blocos lingüísticos, religiosos ou raciais dentro do Estado-nação, aceitando, entretanto, a globalização econômica e financeira. O fundamentalismo islâmico, por sua vez, tem pouca compatibilidade com a democracia (é a rigor uma ditadura clerical) e é pouco conducente à eficiência econômica, em vista de suas restrições medievais aos mecanismos de juros e créditos.

Uma coisa interessante a notar é que o grande conflito ideológico da guerra fria entre o capitalismo e o comunismo foi a rigor uma guerra civil do Ocidente. Ambas as doutrinas provêm da mesma fonte filosófica: o progressismo iluminista e a Revolução Industrial. Talvez tenha razão o politicólogo Samuel Huntington ao dizer que os conflitos do futuro não serão mais entre seitas do pensamento ocidental, e sim entre civilizações, como a chinesa, a islâmica e a ocidental, separadas por falhas tectônicas.

FONTE: VEJA

 
Às 23 de novembro de 2007 às 01:35 , Blogger IRIDIUM08 disse...

globalização comercial e ecnológica
permitiu o salto dos Tigres asiáticos e o alívio da pobreza na China


É reconhecida a proficiência brasileira em três coisas: no futebol, no Carnaval e na busca de bodes expiatórios. Globalização e neoliberalismo são os bodes na moda. Aquele, inocente. Este, inexistente. Falar na ameaça do neoliberalismo em país de moeda inconversível, com 40% do PIB sugados por impostos e dívida do governo, só pode ser masturbação de socialistas nostálgicos. E a globalização não deve ser julgada pelo que não é. Ela não é uma invenção maldosa do capitalismo moderno. Houve episódios de fragmentação e ondas de globalização no decorrer da História. As globalizações mais importantes foram a do Império Romano e a da belle époque do liberalismo, entre 1860 e a I Guerra Mundial, quando, além do livre movimento de mercadorias e capitais, havia livre circulação de pessoas.

A atual globalização não é uma conspiração americana para manter sua hegemonia. Os Estados Unidos são hegemônicos simplesmente porque ganharam a II Guerra Mundial, pelo colapso do socialismo e por liderar a nova revolução tecnológica. A globalização convive com movimentos de integração regional, como a União Européia, precisamente como contrapeso à dominação americana.

A globalização não é responsável pelo desnível industrial nem pela pobreza da periferia. Ao contrário, foi a globalização comercial e tecnológica que permitiu o salto tecnológico dos Tigres Asiáticos e o alívio da pobreza na China, que quinze anos atrás exportava menos que o Brasil e hoje exporta quatro vezes mais. Como o comércio internacional cresce quase o dobro do PIB mundial, os países abertos ao comércio e ao investimento vêm crescendo muito mais que os de economia fechada.

Fala-se no Brasil nos perigos da "desindustrialização" e da "desnacionalização" em virtude da abertura comercial que fizemos desde 1990. Mas as reais dificuldades de nossa indústria advieram de políticas internas que nada têm a ver com liberalismo ou globalização: sobrevalorização cambial, juros escandalosos (resultantes dos déficits fiscais), tributação asfixiante. Países como Cingapura, Taiwan e mesmo o Chile prosseguiram seu crescimento em plena globalização. Outra queixa exagerada é quanto à volatilidade dos capitais financeiros. Essa volatilidade só é grave à medida que os países recipientes exibem vulnerabilidades oriundas de déficits fiscais, de sobrevalorização cambial ou de porres creditícios do setor privado por desregramento do sistema bancário. O Brasil sofreu fuga de capitais em virtude dos dois primeiros fatores, Coréia e Malásia em função do último, Indonésia em função de todos eles. A volatilidade não perturbou Taiwan, Cingapura nem a Austrália.

A atitude sensata para o Brasil é administrar competentemente nossa inserção na economia globalizada do futuro. E, dentro da OMC, continuar lutando tenazmente contra "assimetrias" e "hipocrisias". A "assimetria" é a insistência dos países industrializados em ampliar a liberação de serviços e as regras de proteção de seus investimentos sem a contrapartida da liberalização de importações agrícolas. A "hipocrisia" é tornar mandatórias no comércio internacional cláusulas sociais (que ignoram diferenças da produtividade da mão-de-obra) ou refinadas exigências ambientalistas. Estas, sob pretextos ecológicos ou humanitários, podem servir de barreiras protecionistas contra as exportações oriundas de países mais pobres.

Qual a alternativa à globalização? Nenhuma. Isolarmo-nos da revolução tecnológica para proteger empregos é suicídio, porque a perda de competitividade geraria estagnação, destruindo empregos. Houve em novembro passado, nas Filipinas, uma reunião de grupos antiliberais de 31 países, sob o pomposo título de Conferência Internacional sobre Alternativas à Globalização. O resultado foi patético. Além de xingamentos à chamada tríade maligna – FMI, Bird e OMC –, acusada de cumplicidade na "ofensiva neoliberal do capitalismo monopolista contemporâneo", a conferência desovou duas recomendações concretas: um calote financeiro pelo não pagamento da dívida externa e um calote intelectual pelo não reconhecimento de patentes tecnológicas. Seriam assim punidos os dois principais protagonistas do desenvolvimento globalizado: os investidores e os inovadores.

Diz o economista hindu J.K. Mehta, da Universidade de Allahabad, que o subdesenvolvimento é principalmente falta de caráter, e não escassez de recursos ou de capital. Ele tem razão.

FONTE: VEJA

 

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