O Lego sempre foi um exemplo de brinquedo educativo e, ao mesmo tempo, divertido. A fórmula simples, de encaixar peças de plástico de variadas cores e tamanhos umas nas outras para formar objetos e estruturas, marcou a infância de gerações de crianças – e transformou a marca dinamarquesa num fenômeno de vendas a partir dos anos 50. Considerado o brinquedo mais popular do século XX, ele corre o risco de virar, literalmente, peça de museu neste século. A Lego é a maior fabricante de brinquedos da Europa e a quarta do mundo – mas as vendas globais despencaram 30% nos últimos dois anos, e a previsão de prejuízo para 2004 é de 340 milhões de dólares. Como é possível uma marca de sucesso, entre as seis mais conhecidas do planeta, chegar a essa situação? Entre os motivos para a crise, o mais óbvio é a falta de apelo do brinquedo para as crianças nascidas na era dos jogos eletrônicos. Ou seja, as peças de montar ficaram ultrapassadas para uma meninada cada vez mais fascinada pelos videogames e plugada na internet.
Antes, o brinquedo atraía uma faixa etária ampla, a partir dos 6 anos de idade. Os 100 milhões de possibilidades de combinação das peças contidas em cada kit estendiam o interesse até a adolescência. Em vários países há concursos de montagem de grandes estruturas – castelos, monumentos, automóveis – com as peças do Lego. Em muitas escolas brasileiras as peças de montar são utilizadas como uma porta de entrada para o estudo da robótica. Hoje, crianças de apenas 8 anos já estão trocando a brincadeira de encaixar peças de plástico pelo joystick dos videogames. A rápida decadência do Lego pegou de surpresa educadores, pedagogos, psicólogos e pais. Todos eles sempre adoraram o Lego, convencidos de que se trata do brinquedo certo para estimular a criatividade e a capacidade motora das crianças. A procura precoce dos filhos por jogos eletrônicos, com seus movimentos mecânicos e previsíveis, aflige os pais. Para alguns educadores, trata-se de um falso dilema. "A criança só se interessa por brinquedos que estimulem sua criatividade e cujo funcionamento entenda; do contrário, ela simplesmente deixa de lado", diz a psicóloga Edda Bontempo, professora da Universidade de São Paulo.
Se pirralhos de 8 anos estão abandonando o Lego, é porque o brinquedo já não atende à demanda dessa faixa etária. "As crianças de hoje são alfabetizadas e desenvolvem a coordenação motora mais cedo que as das gerações anteriores, o que explica a procura por outras atividades mais instigantes", explica a educadora carioca Tania Zagury. A Lego tentou se antecipar à mudança. Desde 1998, quando a queda nas vendas fez soar pela primeira vez o alerta, a empresa partiu para a diversificação. Foram desenvolvidas várias linhas de novos produtos. Uma das novidades nasceu do licenciamento de marcas conhecidas, como Harry Potter e Guerra nas Estrelas. Outra foi o robô Mindstorms – um kit para montar que incluía processador eletrônico e software. O robô podia caminhar, jogar bola e reagir a estímulos externos. Mas teve vida curta: um hacker alemão conseguiu decifrar o código do software e o divulgou na internet. O prejuízo foi incalculável. Muita gente comprou o kit básico do Lego para montar o robô, que sem o programa custava bem mais barato, e baixou o software pirata da rede.
A partir de 2001, a Lego apostou suas fichas na série Bionicle – robôs para montar que lutam entre si, dirigidos por controle remoto. A série envolve um enredo complexo, com mocinhos e bandidos. O lançamento do Bionicle foi um divisor de águas na empresa. Com esse produto o fabricante rompeu uma tradição de bom-mocismo, criando um brinquedo cuja mensagem básica é a violência. A série já responde por 25% das vendas. É difícil que os mocinhos e bandidos sejam capazes de evitar o naufrágio do brinquedo mais famoso da marca, as peças de montar. Para tentar salvar a marca, a Lego anunciou uma profunda reestruturação na companhia. Kjeld Kirk Kristiansen, neto do fundador, autorizou uma operação desmonte do conglomerado antes de renunciar à presidência. Os cortes devem atingir 25% dos 7 000 funcionários espalhados em trinta países. Serão vendidas algumas das 24 lojas da rede e os parques temáticos da Dinamarca, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Cada um deles foi construído com mais de 30 milhões de bloquinhos de Lego e tem entre os atrativos montanha-russa e réplicas idênticas de cidades européias. Se isso não for suficiente para sanar os problemas de caixa, a empresa deve ser vendida ou pedir concordata.
Muito legal o texto, só queria somar com algo que li na Wired:
"Num laboratório de pesquisa super secreto no quartel-general em Billund, Dinamarca, está escrito num cartaz no corredor: "Nós iremos fazer pela robótica o que o iPod fez pela música" Revista Wired - fev/2006
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O Lego sempre foi um exemplo de brinquedo educativo e, ao mesmo tempo, divertido. A fórmula simples, de encaixar peças de plástico de variadas cores e tamanhos umas nas outras para formar objetos e estruturas, marcou a infância de gerações de crianças – e transformou a marca dinamarquesa num fenômeno de vendas a partir dos anos 50. Considerado o brinquedo mais popular do século XX, ele corre o risco de virar, literalmente, peça de museu neste século. A Lego é a maior fabricante de brinquedos da Europa e a quarta do mundo – mas as vendas globais despencaram 30% nos últimos dois anos, e a previsão de prejuízo para 2004 é de 340 milhões de dólares. Como é possível uma marca de sucesso, entre as seis mais conhecidas do planeta, chegar a essa situação? Entre os motivos para a crise, o mais óbvio é a falta de apelo do brinquedo para as crianças nascidas na era dos jogos eletrônicos. Ou seja, as peças de montar ficaram ultrapassadas para uma meninada cada vez mais fascinada pelos videogames e plugada na internet.
Antes, o brinquedo atraía uma faixa etária ampla, a partir dos 6 anos de idade. Os 100 milhões de possibilidades de combinação das peças contidas em cada kit estendiam o interesse até a adolescência. Em vários países há concursos de montagem de grandes estruturas – castelos, monumentos, automóveis – com as peças do Lego. Em muitas escolas brasileiras as peças de montar são utilizadas como uma porta de entrada para o estudo da robótica. Hoje, crianças de apenas 8 anos já estão trocando a brincadeira de encaixar peças de plástico pelo joystick dos videogames. A rápida decadência do Lego pegou de surpresa educadores, pedagogos, psicólogos e pais. Todos eles sempre adoraram o Lego, convencidos de que se trata do brinquedo certo para estimular a criatividade e a capacidade motora das crianças. A procura precoce dos filhos por jogos eletrônicos, com seus movimentos mecânicos e previsíveis, aflige os pais. Para alguns educadores, trata-se de um falso dilema. "A criança só se interessa por brinquedos que estimulem sua criatividade e cujo funcionamento entenda; do contrário, ela simplesmente deixa de lado", diz a psicóloga Edda Bontempo, professora da Universidade de São Paulo.
Se pirralhos de 8 anos estão abandonando o Lego, é porque o brinquedo já não atende à demanda dessa faixa etária. "As crianças de hoje são alfabetizadas e desenvolvem a coordenação motora mais cedo que as das gerações anteriores, o que explica a procura por outras atividades mais instigantes", explica a educadora carioca Tania Zagury. A Lego tentou se antecipar à mudança. Desde 1998, quando a queda nas vendas fez soar pela primeira vez o alerta, a empresa partiu para a diversificação. Foram desenvolvidas várias linhas de novos produtos. Uma das novidades nasceu do licenciamento de marcas conhecidas, como Harry Potter e Guerra nas Estrelas. Outra foi o robô Mindstorms – um kit para montar que incluía processador eletrônico e software. O robô podia caminhar, jogar bola e reagir a estímulos externos. Mas teve vida curta: um hacker alemão conseguiu decifrar o código do software e o divulgou na internet. O prejuízo foi incalculável. Muita gente comprou o kit básico do Lego para montar o robô, que sem o programa custava bem mais barato, e baixou o software pirata da rede.
A partir de 2001, a Lego apostou suas fichas na série Bionicle – robôs para montar que lutam entre si, dirigidos por controle remoto. A série envolve um enredo complexo, com mocinhos e bandidos. O lançamento do Bionicle foi um divisor de águas na empresa. Com esse produto o fabricante rompeu uma tradição de bom-mocismo, criando um brinquedo cuja mensagem básica é a violência. A série já responde por 25% das vendas. É difícil que os mocinhos e bandidos sejam capazes de evitar o naufrágio do brinquedo mais famoso da marca, as peças de montar. Para tentar salvar a marca, a Lego anunciou uma profunda reestruturação na companhia. Kjeld Kirk Kristiansen, neto do fundador, autorizou uma operação desmonte do conglomerado antes de renunciar à presidência. Os cortes devem atingir 25% dos 7 000 funcionários espalhados em trinta países. Serão vendidas algumas das 24 lojas da rede e os parques temáticos da Dinamarca, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Cada um deles foi construído com mais de 30 milhões de bloquinhos de Lego e tem entre os atrativos montanha-russa e réplicas idênticas de cidades européias. Se isso não for suficiente para sanar os problemas de caixa, a empresa deve ser vendida ou pedir concordata.
FONTE: VEJA
Muito legal o texto, só queria somar com algo que li na Wired:
"Num laboratório de pesquisa super secreto no quartel-general em Billund, Dinamarca, está escrito num cartaz no corredor: "Nós iremos fazer pela robótica o que o iPod fez pela música"
Revista Wired - fev/2006
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